Para o Miguel

É difícil escrever uma elegia para um amigo sem cair em lugares-comuns;
Felizmente, eras tudo menos uma pessoa comum.
Além de puro waterman (bodyboard; caça submarina; nadador-salvador), a arte à moda renascentista corria-te nas veias - desde a pintura à cerâmica, passando pela escultura, nada te era estranho. Há pouco tempo estavas numa de aproveitar as potencialidades informáticas para criar.
No bodyboard dedicavas-te sobretudo ao dropknee, estilo que poucos dominam, e eras daqueles corredores de ondas que vivem uma ida à água (ou simplesmente à praia, para correr ou curtir o crepúsculo) como momentos irrepetíveis, calmamente mas cheio de pica, numa estado de energia controlada capaz de atingir a ebulição mal avista aquela onda. Sereno mas motivado, tal como eras fora de água, sempre com planos, quer fossem de viagens (a mais recente, decerto concretizada agora, para a Austrália), quer fossem de inovações na prancha, como straps para aumentar a estabilidade em dropknee...
A nossa amizade, que perdura (além das memórias imortais, tenho um quadro teu por cima da cama, em Cascais, e diversas ondas captadas em filme) era forte sem a necessidade de nos falarmos durante semanas. Quando se precisava de algo, bastava uma chamada; senão, já sabíamos onde nos encontrávamos... tal como sei que voltaremos a partilhar sessões clássicas.

Até sempre!